sexta-feira, outubro 24, 2003

AUSÊNCIAS


Recebi a notí­cia pela manhã. Soltei um uivo, sacudi o corpo e olhei em frente.

Fiquei órfão. Senti-me como um barco perdido no meio de um oceano turbulento. O meu último cordão umbilical tinha-se partido definitivamente. Como uma âncora que, secretamente, busca no fundo do oceano o ponto que lhe permita segurar o navio e devolver-lhe a segurança. Por muito forte que seja o navio, nunca pode prescindir das suas âncoras.

Um já tinha partido há alguns anos atrás, deixou-me o gosto pela coerência e pelos princí­pios. Agora a minha mãe. Deixou-me o empenho, o gosto pela vida, a tolerância e a solidariedade. Tantas coisas que me deixaram e tão poucas de que consigo falar... Neste momento!

Espero conseguir ser fiel às suas dádivas.

Num flash tudo passou pela minha frente. Eles cumpriram o seu papel no teatro da vida, cabe-me agora a mim completar o meu. Embora diferente o meu desejo é o de conseguir estar à altura do por eles desempenhado.

Envolvemo-nos no nosso mundo, pensamos que, de alguma forma, conseguimos dar uma contribuição, por pequena que seja, para um mundo melhor, mas, de repente, as nossas emoções explodem com o que nos está mais próximo e aparecem sentimentos que julgavamos que nem existiam e... sentimo-nos melhor connosco e com uma vontade redobrada de continuar o nosso processo.

Deus não existe! O que existe é a marca indelével que deixam em nós.

A vida continua inexoravelmenete, mas vou estar ausente durante alguns dias.


|