domingo, setembro 19, 2004

CICLO FERNANDO PESSOA (1888-1935) - XVII

Sonetos de Álvaro de Campos [Arco de Triunfo]

A Praça da Figueira de manhã,
Quando o dia é de sol (como acontece
Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,
Embora seja uma memória vã.

Há tanta coisa mais interessante
Que aquele lugar lógico e plebeu!
Mas amo aquilo, mesmo assim... Sei eu
Porque o amo? Não importa nada... Adiante!

Isto de sensações só vale a pena
Se a gente não se põe a olhar para elas.
Nenhuma delas em mim é serena...

De resto, nada em mim é certo e está
De acordo consigo próprio... As horas belas
São as dos outros, ou as que não há.



Londres, (uns cinco meses antes do Opiário) Outubro 1913


in Poemas de Álvaro de Campos, Edição de Cleonice Berardinelli, INCM, 1992



|