quarta-feira, outubro 08, 2003

CICLO MANUEL BANDEIRA (1886-1968) - II



Manuel Bandeira nasce no Recife, Pernanbuco em 1886 e morre em 1968.

É considerado o expoente do modernismo brasileiro. Deixou uma vasta obra que abarcou vários estilos: ensaios, crónicas, memórias, mas sobretudo poesia.

Em finais de 1904 contrai tuberculose, que o levará a fixar-se no Rio de Janeiro, em 1910 parte para França onde priva com Paul Éluard. Regressa ao Rio de Janeiro com o início da I Guerra Mundial e morre no Brasil em 1968, deixando uma obra singular.

Afirma Henrique Galvão, no prefácio da 1.ª edição portuguesa de "Obra Poética" (Junho de 1956 - Editorial Minerva, Lisboa): «[...] Manuel Bandeira que, embora brasileiro de alma e condição, se me afigura, no mundo das letras, acima de tudo que lhe atribuem e se atribui, o mais alto valor contemporâneo de uma poética luso-brasileira (muito portuguesa nas raí­zes, muito brasileira nos ramos), é classificado, nos sectores mais gritantes dos seus crí­ticos e admiradores e, possivelmente, pela garganta dos seus antagonistas também, como o "S. João Baptista do modernismo brasileiro". [...]».

Sofrendo do mesmo mal (a tuberculose) que o poeta português e portuense António Nobre (1867-1900), dedicou-lhe um soneto no seu livro "A Cinza das Horas".

É esse poema que aqui transcrevemos:


A António Nobre

«Tu que pensaste tanto e em cujo canto
Há a ingenuidade santa do menino;
Que amaste os choupos, o dobrar do sino,
E cujo pranto faz correr o pranto:

Com que magoado olhar, magoado espanto
Revejo em teu destino o meu destino!
Essa dor de tossir bebendo o ar fino,
A esmorecer e desejando tanto...

Mas tu dormiste em paz como as crianças.
Sorriu a Glória às tuas esperanças
E beijou-te na boca... O lindo som!

Quem me dará o beijo que cobiço?
Foste conde aos vinte anos... Eu, nem isso...
Eu, não terei a glória... nem fui bom.»



Petrópolis, 3 de Fevereiro de 1916


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