domingo, dezembro 14, 2003

A PROPÓSITO DA REPÚBLICA DAS BANANAS E OUTRAS HISTÓRIAS EDIFICANTES

Este texto chegou às minhas mãos através de um amigo, o autor é desconhecido, pelo menos para nós, mas certamente que não se importará que o divulguemos.

1. A jornalista Maria João Ruela foi, por indicação da sua entidade patronal, para o Iraque fazer uma reportagem sobre um país em guerra. A jornalista Maria João Ruela, e sua entidade patronal, sabem que nas guerras existem probabilidades, um pouco mais "prováveis" de acontecer, de se ser ferido, morto ou assaltado, do que se estiver a fazer uma reportagem sobre a desaparecimento das urgências de pediatria no hospital de Santa Maria. A jornalista Maria João Ruela foi ferida e assaltada enquanto exercia o seu trabalho de jornalista para a sua entidade patronal. A jornalista Maria João Ruela foi evacuada para o Kuweit, onde foi assistida num hospital local. A jornalista Maria João Ruela foi re-evacuada (isto é, evacuada depois de já ter sido evacuada) de um hospital no Kuweit para um hospital em Portugal, para evacuar a jornalista Maria João Ruela foi enviado um avião do INEM (sim, parece que tem um...) de propósito ao hospital do Kuweit para trazer a senhora para um hospital de Portugal.

2. Se o pedreiro José Maria se ferir num acidente de trabalho em Angola (onde a assistência médica está longe de ser igual á do Kuweit...) o INEM vai mandar um avião? Se o pescador Luís Pisco se ferir na pesca do bacalhau na Terra Nova, o INEM vai mandar um avião à Gronelândia? Se uma criança de Odivelas necessitar de atendimento urgente num dia de greve nos transportes e, por o hospital D. Estefânia (que agora é o único com urgência pediátrica...) que está numa zona de difícil acesso rodoviário, estiver inacessível em tempo útil... o INEM vai enviar um avião a Odivelas? Se tu, que pagas os mesmo impostos que a jornalista Maria João Ruela (que foi para o Iraque trabalhar, como tu vais para o trabalho todos os dias) tiveres um acidente de trabalho, o INEM vai buscar-te de avião?

3. O jornalismo português que é tão zeloso quando se gasta o dinheiro dos contribuintes... agora está calado????? O jornalismo português tão ávido de sangue quando se trata de matar o nome de qualquer cidadão distraído... agora está calado? O jornalismo português que conseguiu a proeza de mandar um batalhão de jornalistas que só conseguiam fazer reportagem... sobre os outros jornalistas... agora não escreve sobre esta jornalista? O jornalismo português que tanto gosta da concorrência entre si... agora está de acordo? O jornalismo português tem espinha? O jornalismo português tem moral? O jornalismo português sabe o que é a independência? O jornalismo português, que já tinha inventado a forma peculiar de dar notícias ao estilo: morreram 3 pessoas e 1 jornalista, agora tem uma razão para se sentir realizado: os jornalistas, de facto, não são pessoas (pelo menos pessoas como os outros humildes mortais...)

4. Seria bom que o governo português que justificou o fecho da urgência pediátrica de Santa Maria (por sinal o hospital com o melhor serviço de pediatria e neo-natalidade de Lisboa) por razões económicas, tivesse utilizado aquele dinheiro para manter o serviço aberto e deixasse a jornalista Maria João Ruela se restabelecer no hospital do Kuweit (que é
excelente!!!!!!!!!!!) e viesse para Portugal, num avião comercial, depois de restabelecida..... a saúde das nossas crianças ficaria agradecida...

5. Que m*%&! de república das bananas em que vivemos...


Evidentemente que este texto é redutor, mas não deixa de colocar o dedo na ferida quando salienta a diferença de tratamento de que são alvo os cidadãos portugueses, assim como deixa implicita a pergunta: mas afinal vamos poupar em quê?

Como seria bom que não se esbanjasse dinheiro em manobras de propaganda e se cumprisses prioridades em relação às necessidades mais elementares e básicas dos Portugueses.

Xanana Gusmão disse há dias que não existia democracia onde houvesse gente com fome, sem habitação, sem direito ao ensino ou à saúde (a ordem não era esta, mas também, para o caso, é indiferente). Quero com isto dizer que a democracia não se afirma pela retórica dos pseudo detentores da verdade (dogmas), mas sim pela concretização das necessidades básicas dos cidadãos em resultado da dialéctica que estes estabelecem com o poder, fruto do seu exercício da cidadania. No entanto é conveniente realçar que não defendo a paralização de um povo à espera que todos cheguem àquele estado, para depois partir para outro. É necessária uma dinâmica constante, mas em que a prioridade seja sempre para os mais necessitados, os outros têm outros meios que lhes permite ultrapassar a maior parte das dificuldades.


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