segunda-feira, janeiro 05, 2004

SONHAR UM HOMEM NOVO


Quando soaram os sinos
na torre da catedral
A Natureza acordou
Com uma angústia total.

A Lua apagou-se em momentosa,
Choveram raios, a trovejar...
O vento uivava lamentos
Andavam pedras pelo ar.

Ferida, bem lá no fundo,
Já farta de tanta agressão
A natureza reagiu, pondo o mundo
Em plena confusão.

Lobo, pardal ou insecto
Ou ave de arribação
E homens já sem razão
Tinham já o ar infecto
Dos montes de podridão.

As árvores já sem raízes
As rochas a voltear
Como pássaros infelizes
Num desespero sem par.

E sinos já não havia
A tocar na catedral.
Nem o silêncio gemia...
Era um silêncio total.

Mas será a Mãe Natureza,
Que apesar de sofrer tanto,
Há-de agir bem, com dureza
Para aliviar este pranto.

E no seio duns penhascais
Nascida duma união,
Espontânea, sem amor,
Surgiu uma bela visão.
A visão duma flor.

Brotando do calhau duro
Perdido em fundo recôvo
É a flor do futuro
Dum futuro de esperança
A sonhar um Homem novo.


Eugénio Rietsch Monteiro (1998)


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