quinta-feira, abril 14, 2005

Casa da Música

Finalmente a Casa da Música do Porto abre as suas portas ao público, quatro anos depois do "Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura", com dois excelentes concertos: Clã e Lou Reed.

A Casa da Música não é uma obra consensual, bem pelo contrário, é uma obra megalómana e envolta em polémica, desde o seu projecto até à sua inauguração e que irá prolongar-se pelo futuro próximo.

Pelo facto de ser uma obra megalómana, pois desde a construção do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que não se construiu uma obra destinada a servir a cultura de tal envergadura em Portugal, é mau se encararmos que o dinheiro dispendido (seis vezes mais do que o inicialmente calculado e que já era muito dinheiro) foi demasiado, mas se os portuenses e os portugueses souberem tirar proveito deste grandioso investimento cultural, a médio prazo transformar-se-á numa mais valia para a cidade e para o país.


Casa da Música do Porto
(Abertura ao público em 14 de Abril de 2005) Posted by Hello

Quanto à polémica podemos encará-la sobre várias perspectivas. Neste artigo vou abordar a perspectiva estética e arquitectónica, mesmo não conhecendo ainda o edifício por dentro. Repugnam-me um pouco as obras que geram consenso, pois estas são obras feitas para agradar a um público contemporâneo, muitas vezes com uma má preparação cultural e, por isso, mais imediatista. Todas as obras que foram consideradas consensuais no seu tempo perderam valor com o passar dos anos, só aquelas que, goste-se ou não, romperam com a tradição e introduzem novidade e modernidade se tornam imortais e ajudaram a transformar os meios em que se encontram inseridas, melhorando a qualidade arquitectónica envolvente e a qualidade de vida. Só por isto a Casa da Música já está a cumprir o seu papel em relação ao futuro arquitectónico da zona da cidade onde foi implantada.

O problema não está na Casa da Música em si, mas naquilo que se projecta fazer no local nos tempos mais próximos, o que demonstra que a sociedade política e económica e também a sociedade civil em geral, não percebeu a grandeza do projecto e se prepara para cometer erros urbanísticos na zona que ficarão caros a gerações futuras que terão de, mais tarde ou mais cedo, corrigir os atentados urbanísticos que se preparam para o local.

Muita da polémica que se vive em torno da Casa da Música não diz respeito ao projecto em si, mas sim aos conflitos políticos gerados por dois dos piores Presidentes de Câmara que o Porto tem tido nas últimas décadas, Nuno Cardoso e Rui Rio, cada qual com as suas idiossincrasias, que ajudaram a afundar a cidade quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista de afirmação política e económica no país. Se ao primeiro podemos associar um bairrismo parolo, ao segundo podemos associar um pseudo universalismo de bolso e a ambos a mediocridade.

A Casa da Música está aí, com os seus defeitos e virtudes. Cabe-nos a nós, portuenses em particular e aos portugueses em geral, exigir que esta cumpra a missão para que foi construída, isto é, uma casa de todas as músicas sem elitismos e com ecletismo. E já agora, aproveitando um comentário aqui posto e como no artigo não ficou devidamente explícito, que seja gerida pelos artistas e não pelos políticos.


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