quarta-feira, outubro 15, 2003

AS BRASILEIRAS DE BRAGANÇA

Li ontem na Lusa que o governo português proibiu a publicidade ao Euro 2004 na TIME em resultado do artigo recentemente publicado pela TIME Europe, intitulado When the Meninas came to Town.

Mais uma vez me parece que o complexo da avestruz está a tomar proporções inusitadas. A TIME limitou-se a dar realce a um facto que existe e que, para a dimensão da cidade, afecta grande parte das famílias brigantinas. Por outro lado o artigo revela, que a necessidade que alguns, muitos, evidenciam, está directamente relacionada com um casamento fundado em preconceitos, onde a mulher assume um papel subalterno no plano da relação do casal. Em que o casal não assume a sexualidade plena, mas pelo contrário esta se funda em pressupostos machistas.

Neste contexto os homens julgam-se obrigados a satisfazer os seus anseios e fantasias sexuais com mulheres que julgam inferiores e a quem pagam para que lhes satisfaçam as suas necessidades. Muitas vezes essas necessidades nem são de carácter sexual, mas tão somente a de alguém que esteja disposto a ouvir os seus problemas físicos, profissionais, passionais, sonhos, etc. Nem que para isso tenham de pagar.

De que têm medo as mulheres bragançanas? Antes da vinda das brasileiras os seus maridos já não apresentavam o mesmo tipo de comportamento? Mais camuflado, é certo, porque o objecto do prazer estava mais dissimulado. Esta reacção não será simplesmente uma reacção xenófoba?

De facto algo vai mal no seio da família portuguesa, mas esse algo tem a ver essencialmente com os valores, as atitudes e as relações interpessoais entre os elementos do casal e de uma comunidade.

A solução parece-me estar numa revalorização dos valores, isto é, na aquisição de um novo conceito de convivência entre homens e mulheres, que já não é novo, mas que tarda em chegar a comunidades mais conservadoras e fechadas, que passe sobretudo por uma situação de igualdade entre os sexos e a aceitação da diferença.

Perante esta situação o governo português, que nos habituou às reacções em câmara lenta, foi célere. Meteu pés ao caminho e há que castigar os fautores, utilizando uma arma que, inocentes, julgávamos já definitivamente irradicada, a censura. Ai os meninos dizem que nós portugueses gostamos da pouca vergonha, então vão ser castigados e não vão poder publicar uma linha de publicidade sobre o Euro 2004. Cá está a política da avestruz, em vez de encarar os factos, o governo assobia para o lado e mete a cabeça no buraco.

Quem ficará a perder com esta atitude? A TIME e as ditas brasileiras não serão, de certeza.


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