sábado, abril 10, 2004

CHOCOLATE: UMA VELHA DELÍCIA

O chocolate, tão comum em todo o mundo nos dias atuais, tem uma história muito curiosa e fundamentada em crenças e rituais de séculos atrás, na América Central.

São se sabe precisamente mas o chocolate, ou "tchocolath", seu primeiro nome, surgiu na região que hoje compreende o México e a Guatemala, de modos diferentes para Astecas e Maias.

O primeiro nome moderno do chocolate foi "Theobroma" ou, traduzindo do grego, "alimento dos deuses". O nome foi criado no século XVIII por um botânico sueco, Carlos Linnaeus, conhecedor da história do chocolate entre os povos antigos.

Astecas

Para os Astecas, o chocolate surgiu como uma oferenda do deus Quetzalcoatl aos antigos povos Aztecas que habitavam a região que hoje compreende o México. Segundo acreditavam, Quetzalcoatl teria trazido as sementes de cacau do céu.

Um dia, conta a crença azteca, Quetzalcoatl teria se cansado do povo e partido para voltar no ano de "um cunho" ou, de acordo com o calendário asteca, dali há 52 anos.

Maias

Um pouco antes dos Astecas, cerca de 600 a.C., os Maias também conheciam o chocolate, mas o tratavam como cultura, e não crença. Semearam as primeiras plantações de cacau e, com as colheitas, ficaram mais ricos a cada ano que passava.

Como ficaram ricos com chocolates naquela época não chega a ser um mistério. O cacau, entre os povos Astecas e Maias, era moeda forte, ou seja, quem tiver mais, mais rico é. Um escravo, por exemplo, poderia ser comprado com 100 sementes de cacau.

Chegada dos espanhóis

Até o descobrimento da América, em 1492, o chocolate, produto do precioso cacau, só circulava por rituais e banquetes dos antigos povos locais. Tudo começou a mudar com a chegada dos espanhóis à América.

Cristóvão Colombo foi o primeiro deles a experimentar a bebida, ainda amarga, que seria apreciada no mundo inteiro. Não gostou nem um pouco e esqueceu rápido do chocolate, poderia ser conhecido ainda mais se tivesse gostado!

Dezessete anos depois, em 1519, o explorador espanhol Fernão Cortez e mais de 500 soldados desembarcaram no México para enfrentar os nativos locais e conquistar a região. Ao chegar, foram recebidos como deuses pelo imperador Montezuma, dos Astecas, acreditando este que Cortez seria Quetzalcoatl que estaria voltando, pois 1519 coincidia com o ano de "um cunho", esperado como a
data da volta do querido deus Asteca.

A destruição

Com o passar dos dias Cortes percebeu o valor imenso do cacau para os nativos e, como bom comerciante, tratou de plantar uma grande área em nome do Rei Carlos V, da Espanha, em solo mexicano mesmo.

Como o ouro era indiferente para os Maias e Astecas, ao chegar a hora da colheita Cortez propôs trocar com os nativos todas as sementes por ouro. Em pouco tempo, navios espanhóis deixavam a América com os porões lotados do metal maisprecioso na europa.

Mais alguns anos e Cortez prendeu Montezuma escravizando os nativos, com uma destruição em massa que culminou na extinção destes povos.

A difusão pela Europa

O "tchocolath" dos antigos americanos não era saboroso como o atual, tendo na receita uma boa dose de pimenta e outras especiarias. Entre outros ingredientes estavam o vinho e purê de milho fermentado.

Na Espanha, que ainda o escondia do restante das nações, o chocolate começou a ser adaptado ao gosto europeu que, para diminuir o amargo do cacau, adoçavam a fórmula com mel ou açúcar, diminuindo as especiarias.

Os espanhóis eram os únicos que tinham o conhecimento de como cultivar e tratar o cacau para ser transformado em chocolate, não pretendendo ensinar a mais alguém.

Sabiam como colher, retirar as sementes dos frutos e depois espalhá-las ao sol para fermentar e secar. Após isso, era preciso esmagá-las para que tomassem a consistência de uma pasta cheirosa que, misturada com água e os outros temperos, chegaria ao chocolate.

Os monges espanhóis aprimoraram as técnicas de produção e inovaram com o chocolate em barras, prontinho para ser diluído e bebido. Com essas inovações o produto começou a se espalhar pela Europa. Visitantes provavam e queriam saber de onde vinha tal bebida. Na resposta, vazavam os segredos e em pouco tempo o cacau era plantado nos quatro cantos do mundo.

A conquista do chocolate

A França foi o primeiro país, depois da Espanha, a conquistar o segredo do chocolate. Tal conquista se deu de maneira pacífica, com o casamento da infanta da Espanha, Ana da Áustria, com o rei Luís XIII, da França.

Apaixonada pela bebida, Ana organizava verdadeiras festas e espalhava convites pelo reino para "o chocolate de Sua Alteza Real". Em 1657 surge em Londres a primeira loja especializada em chocolate.

Aumento do plantio

Todos os países europeus que possuíam colônias em continentes com solo e clima mais propícios ao plantio do cacau começaram a cultivá-lo como forma de combater os pesados impostos de exportação sobre a semente colocados pela Espanha.

Com o passar do tempo o cacau foi introduzido em todas as ilhas do Caribe, na África e, mais tarde, chegou às Filipinas e outras regiões da Ásia.

Com a virada do século XVII as casas que ofereciam chocolate em Londres começaram a se espalhar, confrontando-se com os famosos cafés ingleses, onde aristrocatas e novos burgueses passavam horas conversando sobre política. Em anos seguintes, as casas espalham-se pela europa.

Voltando à América

Em 1765 é montada nos EUA a primeira fábrica de chocolates da até então colônia inglesa. Um médico, James Barker de Dorchester, se associa a um fabricante de chocolate recém-chegado da Irlanda, John Honnon, fundando a Companhia Barker.

As novidades em torno do chocolate não param de aparecer, com cada pequena fábrica inovando nos temperos, como o cravo, para ter o melhor sabor.

Evolução final

Entre 1828, com a criação do chocolate em pó, e 1875, ano de fundação da Nestlé, criadora do chocolate ao leite, muita coisa aconteceu e, após esse período, a correria mundial pelo do cacau tomou dimensões gigantescas. O mundo inteiro plantava cacau.

Em meados de 1900 descobre-se que o chocolate é um dos melhores repositores de energia que existem e, com o início da primeira Grande Guerra Mundial, em 1914, o chocolate vai ao front de batalha como ração de emergência. Foram tempos difíceis para o chocolate, que sofreu restrições na importação e pesadas taxas.

Somente em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, a situação se normalizou e o chocolate se tornou um dos produtos mais populares do mundo.

Cacau brasileiro

A Bahia foi o berço do cacau brasileiro seja em 1665, como acreditam alguns historiadores, ou em 1746, de acordo com a maioria deles.

O que se sabe é que a primeira área de cultivo pertenceu a um colono francês, Louis Frederic Warneaux, que trouxe sementes do Pará e plantou em uma área que hoje compreende o município de Canasvieiras.

Até hoje, pelo clima, solo e topografia, a Bahia, especialmente a região de Ilhéus, é uma potência mundial no que se refere ao cacau.

Apenas em 1954 as sementes chegam ao sudeste do Brasil, no estado de São Paulo, e hoje, com plantações no Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rondônia e Mato Grosso, o Brasil é considerado o segundo maior produtor mundial de cacau, atrás apenas da Costa do Marfim.


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1 Comments:

At 07:58, Blogger Unknown said...

por acaso, vc sabe mais sobre Louis Frederic Warneaux? Se não, vc tem alguma idéia de onde eu possa encontrar essa informação? De onde vc recolheu esta informação sobre ele?
Se eu não estiver enganado, Louis Frederic Warneaux é meu tátara-tátara-tátara-tátaravô, e a historia da minha família me interessa muito.....
Por favor me informe algo.
Pode me enviar um e-mail pra gabrielvf(arroba)me.com

 

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