sábado, abril 24, 2004

Os Anos 60, a nova Oposição e a Luta Armada contra o Regime



A partir de meados dos anos 50, mas sobretudo com o advento dos anos 60, o mundo entra numa fase de transformação radical.

A nível social a juventude entra em ruptura com a geração anterior, a qual conduzirá à formação de uma nova mentalidade intimamente ligada aos ideias de justiça e liberdade. Do ponto de vista das comunicações e desenvolvimento tecnológica verifica-se uma autêntica revolução, que abre caminhos para um desenvolvimento que até aí faziam parte da ficção, o mundo vai transformando-se, a pouco e pouco, numa aldeia global. Do ponto de vista económico, e sobretudo no mundo ocidental, verifica-se uma significativa melhoria, que conduzirá a sociedades de bem-estar. Ao nível político as velhas políticas são fortemente contestadas a ocidente ou a oriente, a norte ou a sul, permitindo o surgimento de uma nova realidade. O movimento de descolonização, as novas políticas sociais, a ruptura com a ortodoxia comunista, o desenvolvimento dos média, são alguns dos factores visíveis do novo mundo que está a surgir.

Portugal não fica, porque não pode ficar, alheio às transformações que se verificam por todo o mundo. Desta forma acentua-se a politização da sociedade portuguesa que exige mudanças, exigência que chega também a sectores até aí ligados ao Estado Novo.

No início dos anos 60 a União Indiana anexa as colónias portuguesas da Índia. Inicia-se a Guerra Colonial em Angola, Guiné e Moçambique. A falta de resposta do regime à nova realidade, provoca um isolamento, cada vez maior, de Portugal a nível internacional.

A situação agrava-se, a incapacidade de respostas políticas, sociais e económicas de Salazar, e depois de Caetano, provocam uma pobreza generalizada e, durante os anos 60, cerca de um milhão e quinhentos mil portugueses são obrigados a emigrar para a Europa Central, sobretudo para França, onde contactando uma nova realidade, passarão a servir de agentes da transformação necessária do regime. Muitos milhares de jovens universitários, que discordam da Guerra Colonial, recusam-se a servir um regime caduco e passam a "salto" para outros países europeus, onde dão a conhecer a realidade portuguesa. Em finais dos anos 60, alguns sectores da burguesia, que até aí têm servido de base de apoio ao regime, começam a contestá-lo e, embora inseridos na estrutura do regime, sobretudo no período marcelista, abrem brechas de contestação. Destacam-se Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miller Guerra e Mota Amaral, entre outros, os quais na Assembleia Nacional, integrando a ANP, partido único, começam a contestar as medidas políticas do regime e apontam saídas possíveis para a situação portuguesa. A tudo o governo faz orelhas moucas, vítima de um autismo incompreensível, não deixando qualquer alternativa para a mudança a não ser a da radicalização de posições e o recurso à luta armada e/ou um pronunciamento militar, o qual dava sinais de se poder efectivar, por causa da falta de capacidade de diálogo do governo em encontrar uma solução política para o problema das colónias, cuja guerra estava inevitável e irremediavelmente perdida.

A partir dos anos 60 surgem, em Portugal, novos partidos políticos que irão contribuir para diversificar e intensificar a luta contra o regime. Os seus quadros são quase exclusivamenete compostos por jovens universitários, muitas vezes católicos que bebem a sua ânsia de liberdade e justiça no Concílio Vaticano II, ou que saiem das fileiras do velho PCP, também ele sem capacidade de acompanhar o ritmo das transformações que se dão no mundo. Surgem assim, de tendência trotsquista, a LCI, que mais tarde dará origem ao actual PSR, de tendência maoísta surgem o MRPP, a FEC (M-L), a AOC, a UDP, entre outros. Se por um lado se ganha uma maior militância contra o regime, também, nalguns casos, se perde alguma eficância, devido à atomização e multiplicação de partidos, sobretudo maoístas, que não apresentam divergências ideológicas significativas entre si, mas cada um por si está convencido da sua verdade. Este fenómeno não é exclusivo de Portugal, noutros países, onde existia liberdade, a rivalidade entre os próprios partidos maoístas e entre estes e os trotsquistas e de todos com os apelidados revisionistas dos PC's.

Paralelamente, em Portugal, surgem iniciativas e organizações políticas que só encontram solução na luta armada. A operação Dulcineia, assalto ao paquete Santa Maria, liderada por Henrique Galvão e Humberto Delgado, ambos antigos apoiantes de regime, e executada por operacinais portugueses e espanhóis, pretende chamar a atenção do mundo para as ditaduras dos respectivos países.

Como antecedentes da luta armada contra o regime desde os anos 60 até ao 25 de Abril podemos destacar os seguintes: movimento revolucionário de forças militares que eclodiu no Porto em 3 de Fevereiro de 1927 e se estendeu a Lisboa quatro dias depois; nova tentativa de derrube do regime que eclodiu em Lisboa e durou cerca de 12 horas, em 20 de Julho de 1928; a revolta da Madeira em 4 de Abril de 1931; nova tentativa de derrube do regime em 26 de Agosto de 1931; greve geral com atentados à bomba e sabotagens, com maior incidência na Marinha Grande em 18 de Janeiro de 1934; atentado a Salazar em em 4 de Julho de 1937; em 10 de Abril de 1947 5 generais, 6 oficiais-superiores e 13 professores universitários são demitidos das suas funções por terem participado numa conjura que se manifestou através de greves e de uma tentativa de revolta na região de Tomar; em 22 de Janeiro de 1961, Henrique Galvão, com um grupo reduzido, apoderou-se do paquete "Santa Maria", a navegar no alto mar. Ver informações mais detalhadas em Imprensa da Época

Neste contexto surgem três organizações políticas que enveredam pela luta armada, a LUAR (Liga de União e Acção Revolucionária), fundada por Palma Inácio e Camilo Mortágua e de forte inspiração delgadista que aposta fortemente na criação de uma fente de luta unitária contra o regime (sem êxito, diga-se, o maior trunfo do regime foi sempre apostar na falta de entendimento e das divergências da oposição) que levará a cabo algumas das acções mais espectaculares (desvio de um avião que espalhará panfletos contra o regime sobre Lisboa, assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, entre outras), pouco antes do 25 de Abril tinha preparado uma operação de ocupação da cidade da Covilhã durante algumas horas com vista a abalar o regime, a operação é descoberta pela PIDE e falha, por isso muitos dos seu militantes, incluindo o próprio Palma Inácio estavam em Caxias quando se dá o 25 de Abril. Após o 25 de Abril a LUAR ainda sobrevive legalmente durante cerca de dois anos, mas acaba por se extinguir naturalmente, pois os objectivos que tinham levado à sua criação, o derrube do regime, tinham desaparecido e por isso não se justificava a sua existência.

Partindo de uma cisão no seio do PCP, surgem as BR (Brigadas Revolucionárias), criadas por Carlos Antunes e Isabel do Carmo. Também esta organização desenvolve algumas acções interessantes contra o regime, mas rivaliza as suas actividades com as da ARA.

Sobre a ARA (Acção Revolucionária Armada), nasce a partir do próprio PCP, mas nunca é vista com bons olhos pela estrutura dirigente daquele partido. Desenvolve acções interessantes de combate ao regime. Uma vez que este artigo já vai demasiado longo, aconselho a leitura da entrevista a Raimundo Narciso, um dos fundadores da ARA, por João Tunes do Bota Acima.

As organizações de acção armada em Portugal tiveram sempre como preocupação o ataque ao regime e nunca elegeram como alvos os civis, por isso não podem ser desigadas de terrorismo, salvo erro só uma vez houve uma vítima civil e essa situação deve-se exclusivamente a um erro.


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1 Comments:

At 14:57, Anonymous Anónimo said...

a mae do josé eduardo ferraz eh uma puta

 

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