Quem já não se Cansou da Própria Preguiça?
Na Indonésia, ao acordarmos de madrugada para visitar Borobudur, um relicário budista do século VIII, Lama Gangchen Rimpoche nos disse: “Para fazer coisas negativas não temos preguiça, mas para realizar as positivas precisamos de muita força de vontade”.
Segundo o Abhidharma, a preguiça é uma dos Vinte Fatores Afins da Instabilidade (ou uma das Vinte Emoções Secundárias). Na preguiça nos apegamos, por ignorância, a uma sensação aparentemente positiva, como a sonolência, e abandonamos a iniciativa de agir em função de algo maior e positivo. A preguiça surge da ilusão de que é possível satisfazermo-nos com pouco. Um amigo me forneceu um exemplo bastante ilustrativo ao falar sobre o impacto que seu avô alemão sentiu ao chegar no Brasil no início do século XX. Como imigrante, desembarcou no Porto de Santos com paletó e chapéu branco. Ao ver um brasileiro descansando ao pé de uma palmeira, ofereceu-lhe uma boa gorjeta para que ele carregasse seus pertences até o Hotel mais próximo. Mas o brasileiro lhe respondeu: “Obrigado, eu já comi hoje”.
Lelo quer dizer preguiça em tibetano: “É a mente relutante, associada à perplexidade-erro, dependente dos prazeres da sonolência, que se deita e não levanta. Sua função é obstruir e dificultar que a pessoa se aplique as coisas positivas. A preguiça faz com que todas as coisas positivas se dispersem”. Portanto, a preguiça é uma mente de pouco alcance, incapaz de reconhecer os danos decorrentes de abstermo-nos das responsabilidades.
“Na África, diz-se que, quando uma pessoa adoece, todo mundo está doente. A aldeia ou a tribo é vista como uma enorme árvore, com milhares de galhos. Quando uma parte dessa entidade viva adoece, é preciso reexaminar a árvore inteira. É por isso que, quando alguém está doente, todo mundo se preocupa; faz lembrar que existe um risco que afeta a todos” adverte a africana Sobonfu Some. (O Espírito da Intimidade, Ed. Odysseus)
No Ocidente, no entanto, ocorre o contrário: somos tentados a acreditar que seria possível isolarmo-nos de todas as situações de conflito e viver em nosso pequeno mundo. Mas, atualmente, cada vez mais percebemos que não somos “peças soltas” de um quebra-cabeça. O caos existente dentro e fora de nós constantemente nos pressiona e nos vemos obrigados a reconhecer que não podemos permanecer deitados numa rede, contaminados pela preguiça.
A tendência a “ficar na rede” é sustentada pela esperança infantil de que alguém, ou uma força maior, irá fazer por nós o esforço de viver. Desta forma, a preguiça nos enfraquece, tornando-nos dependentes e submissos a esse outro ente que irá tomar as providências por nós. Ao perdermos a habilidade de nos auto-sustentarmos, perdemos o prazer advindo da responsabilidade, isto é, o prazer de conhecer nosso potencial de autocura.
Em geral, nossa mente é tão rígida! Apenas de ouvir falar sobre a necessidade de “mudar’ já ficamos tensos. Temos preguiça de realizar mudanças. No entanto, no caminho do auto-desenvolvimento, não há tempo para nos “instalarmos na rede”. Temos que ficar constantemente atentos às desculpas que usamos para não buscar a evolução. Não podemos confundir estabilidade com estagnação, ou segurança com resistência à mudança.
“Ficar na rede” é como descansar no meio de uma corrida e acabar por confundir o descanso com a chegada.
Ter preguiça significa estarmos presos na armadilha de adiar para o futuro nossa evolução pessoal, ou de nos contentarmos com prazeres imediatos. Ambas atitudes consomem nossa energia vital. Ficamos atolados, rendidos à nossa própria inércia. O mais grave é que assim não cultivamos uma base de sustentação para nossa energia futura. Enquanto estivermos entregues ao hábito da inércia, estaremos sempre desencorajados, entediados e sem força para nos movermos em direção ao novo.
Segundo a psicologia budista, existem três tipos de preguiça:
* A preguiça da procrastinação, que surge quando pensamos “por que não deixar para amanhã..?”.
* A preguiça ocupada, na qual preenchemos totalmente nosso tempo fazendo uma série de coisas como desculpa para não fazermos de fato o que sabemos que deve ser feito.
* A preguiça por inferioridade, na qual cultivamos a sensação de não sermos capazes ou de ainda estarmos imaturos para fazer o que sabemos que é necessário ser feito.
A preguiça nos paralisa. É como um processo de fuga no qual evitamos lidar com o inevitável. Certa vez, quando Chagdug Rimpoche nos ensinava a importância de nos compararmos com aqueles que estão em situações piores do que a nossa para podermos reconhecer nossas oportunidades de crescimento, eu lhe perguntei: “E quando somos nós que estamos servindo de exemplo para os outros, ou seja, quando somos nós que estamos na pior situação”? Então, ele me respondeu: “Neste caso, você não tem outra saída a não ser trabalhar sua preguiça”.
Segundo o Abhidharma, a preguiça é uma dos Vinte Fatores Afins da Instabilidade (ou uma das Vinte Emoções Secundárias). Na preguiça nos apegamos, por ignorância, a uma sensação aparentemente positiva, como a sonolência, e abandonamos a iniciativa de agir em função de algo maior e positivo. A preguiça surge da ilusão de que é possível satisfazermo-nos com pouco. Um amigo me forneceu um exemplo bastante ilustrativo ao falar sobre o impacto que seu avô alemão sentiu ao chegar no Brasil no início do século XX. Como imigrante, desembarcou no Porto de Santos com paletó e chapéu branco. Ao ver um brasileiro descansando ao pé de uma palmeira, ofereceu-lhe uma boa gorjeta para que ele carregasse seus pertences até o Hotel mais próximo. Mas o brasileiro lhe respondeu: “Obrigado, eu já comi hoje”.
Lelo quer dizer preguiça em tibetano: “É a mente relutante, associada à perplexidade-erro, dependente dos prazeres da sonolência, que se deita e não levanta. Sua função é obstruir e dificultar que a pessoa se aplique as coisas positivas. A preguiça faz com que todas as coisas positivas se dispersem”. Portanto, a preguiça é uma mente de pouco alcance, incapaz de reconhecer os danos decorrentes de abstermo-nos das responsabilidades.
“Na África, diz-se que, quando uma pessoa adoece, todo mundo está doente. A aldeia ou a tribo é vista como uma enorme árvore, com milhares de galhos. Quando uma parte dessa entidade viva adoece, é preciso reexaminar a árvore inteira. É por isso que, quando alguém está doente, todo mundo se preocupa; faz lembrar que existe um risco que afeta a todos” adverte a africana Sobonfu Some. (O Espírito da Intimidade, Ed. Odysseus)
No Ocidente, no entanto, ocorre o contrário: somos tentados a acreditar que seria possível isolarmo-nos de todas as situações de conflito e viver em nosso pequeno mundo. Mas, atualmente, cada vez mais percebemos que não somos “peças soltas” de um quebra-cabeça. O caos existente dentro e fora de nós constantemente nos pressiona e nos vemos obrigados a reconhecer que não podemos permanecer deitados numa rede, contaminados pela preguiça.
A tendência a “ficar na rede” é sustentada pela esperança infantil de que alguém, ou uma força maior, irá fazer por nós o esforço de viver. Desta forma, a preguiça nos enfraquece, tornando-nos dependentes e submissos a esse outro ente que irá tomar as providências por nós. Ao perdermos a habilidade de nos auto-sustentarmos, perdemos o prazer advindo da responsabilidade, isto é, o prazer de conhecer nosso potencial de autocura.
Em geral, nossa mente é tão rígida! Apenas de ouvir falar sobre a necessidade de “mudar’ já ficamos tensos. Temos preguiça de realizar mudanças. No entanto, no caminho do auto-desenvolvimento, não há tempo para nos “instalarmos na rede”. Temos que ficar constantemente atentos às desculpas que usamos para não buscar a evolução. Não podemos confundir estabilidade com estagnação, ou segurança com resistência à mudança.
“Ficar na rede” é como descansar no meio de uma corrida e acabar por confundir o descanso com a chegada.
Ter preguiça significa estarmos presos na armadilha de adiar para o futuro nossa evolução pessoal, ou de nos contentarmos com prazeres imediatos. Ambas atitudes consomem nossa energia vital. Ficamos atolados, rendidos à nossa própria inércia. O mais grave é que assim não cultivamos uma base de sustentação para nossa energia futura. Enquanto estivermos entregues ao hábito da inércia, estaremos sempre desencorajados, entediados e sem força para nos movermos em direção ao novo.
Segundo a psicologia budista, existem três tipos de preguiça:
* A preguiça da procrastinação, que surge quando pensamos “por que não deixar para amanhã..?”.
* A preguiça ocupada, na qual preenchemos totalmente nosso tempo fazendo uma série de coisas como desculpa para não fazermos de fato o que sabemos que deve ser feito.
* A preguiça por inferioridade, na qual cultivamos a sensação de não sermos capazes ou de ainda estarmos imaturos para fazer o que sabemos que é necessário ser feito.
A preguiça nos paralisa. É como um processo de fuga no qual evitamos lidar com o inevitável. Certa vez, quando Chagdug Rimpoche nos ensinava a importância de nos compararmos com aqueles que estão em situações piores do que a nossa para podermos reconhecer nossas oportunidades de crescimento, eu lhe perguntei: “E quando somos nós que estamos servindo de exemplo para os outros, ou seja, quando somos nós que estamos na pior situação”? Então, ele me respondeu: “Neste caso, você não tem outra saída a não ser trabalhar sua preguiça”.
Jornal dos Florais (Bel Cesar)
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