terça-feira, fevereiro 10, 2004

ESPANHOL? O QUE É?


Ouve-se frequentemente em Portugal afirmar, a propósito da língua oficial de Espanha, que o espanhol é a língua de Espanha. Até mesmo a generalidade dos órgãos de comunicação social portugueses veiculam esta teoria. Ora em Espanha convive-se com uma realidade cultural, social, política e linguística bem diferente daquela que a maioria dos portugueses imagina, habituados que estão à ideia de Estado-Nação.

Durante a ditadura franquista as autonomias culturais e linguísticas foram sufocadas, tendo sido mesmo proibidas em favor da afirmação de um nacionalismo exacerbado, o qual pretendia, iludindo, criar a ideia de que a Espanha era um Estado-Nação, que nunca existiu, pois desde a unificação levada a cabo pelos reis Católicos (século XV), que Castela sempre se assumiu, consciente ou inconscientemente, como uma potência imperial sobre as restantes nacionalidades hispânicas, incluindo a portuguesa.

Esta ideia imperialista culminou nos séculos XVI e XVII (1580-1640) com o domínio castelhano de toda a Hispânia. No entanto as raízes são bem mais profundas. Já o próprio Afonso VII de Leão e Castela se intitulou imperador e, por isso, ignorou que Afonso Henriques se intitulasse rei de Portugal, pois à boa maneira feudal o rei teria de prestar vassalagem ao imperador.

Em Espanha existem várias regiões cultural e linguisticamente independentes do Castelhano. Desde o Basco ao Catalão ou ao Galego, passando pelo Leonês, Valenciano ou Asturiano. Doi-me particularmente quando se referem à Galiza, principalmente porque é uma região muito próxima de nós, cultural e linguísticamente, em particular do Norte de Portugal, que tem uma língua própria, o Galego, sacrificada durante décadas pela ditadura franquista e cuja origem é comum ao Português, o Galaico-Português.

Não me move qualquer sentimento seja contra quem for, muito menos contra os povos, pois sinto-me também Hispânico, no sentido de Ibérico. Além disso acho que é na diversidade que está a solução e não na unicidade. Confesso, no entanto, que não professo da mesma indulgência em relação às classes dirigentes de ambos os Estados.

Neste sentido lanço um pequeno desafio a todos os nossos leitores Hispânicos, ou Ibéricos se preferirem, para que se faça uma discussão sobre a afirmação das línguas e dos povos Ibéricos, pois se há muito que nos separa, há muito mais que nos une. Aos Povos, é claro.

Em relação a este assunto aconselho a leitura deste post, assim como os restantes quatro dedicados às leis da normalização linguística, no Pensa Galiza.


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