segunda-feira, abril 12, 2004

A GUERRA COLONIAL



O problema colonial foi mais um dos que deu provas de que o gande estadista, segundo os saudosistas do passado, não era mais do que um homem envelhecido e sem visão de Estado.

De facto pode-se atrasar a História, mas é impossível inverter o seu caminho. Desde finais da II Guerra Mundial que as antigas colónias europeias, com maior ou menor dificuldade, se vão libertando dos antigos senhores europeus. A sua luta beneficia do surgimento de um mundo bi-polar, resultante da guerra fria, onde as duas superpotências, EUA e URSS, apoiam, directa ou indirectamente, muitos movimentos pró-independentistas, com o objectivo claro de alargarem as respectivas áreas de influência.

Salazar teve oportunidade de compreender o rumo da História, foram-lhe propostas várias tentativas de diálogo com os movimentos independentistas, as quais foram sempre recusadas. Salazar com a sua teimosia e obstinação, continuada por Marcello Caetano, impediu sistematicamente uma solução negociada e arrastou o país e os territórios africanos para uma guerra sem sentido, para Portugal, que vitimou milhares de jovens portugueses e africanos.



Guerrilheiro Africano e Soldado Português


A Guerra Colonial iniciou-se em Angola, na madrugada de 4 de Fevereiro de 1961, quando militantes do MPLA assaltaram dois estabelecimentos prisionais e uma esquadra de polícia, em Luanda. A independência será proclamada a 11 de Novembro de 1975.

Em 17 de Dezembro do mesmo ano, a União Indiana dá início à operação militar que leva à ocupação de Goa, Damão e Diu. Dois dias depois as tropas portuguesas apresentam a sua rendição ao comando indiano, efectivando-se a integração dos Estados Portugueses da Índia na União Indiana, ocupação que só viria a ser reconhecido por Portugal após o 25 de Abril.

Início da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC, em 23 de Janeiro de 1963. Dez anos depois, em 24 de Setembro de 1973, em Medina do Boé, o PAIGC declara unilateralmente a independência da Guiné, os portugueses já só dominavam as cidades. Portugal reconheceu a independência da Guiné em 24 de Setembro de 1974.

Em 24 de Setembro de 1964 verifica-se a primeira acção da FRELIMO no Niassa, com o ataque ao posto aministrativo do Cobué. Moçambique proclama a independência em 25 de Julho de 1975.

A atitude de Salazar e Caetano não só foi desastrosa para o país enquanto durou, quer em vidas, quer economicamente, como também condicionou a própria descolonização, sendo eles os principais culpados do que não correu bem durante a descolonização, nomeadamente o regresso em massa de muitos colonos.

Em memória de todos os que tombaram na Guerra Colonial, portugueses ou africanos, deixo-vos um poema de Fernando Pessoa, escrito em 1926:


O Menino da sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
– Duas, de lado a lado –,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira,
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


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